RAFAEL MACHADO
DA REDAÇÃO
A eleição suplementar ao Senado para preencher a vaga de Mato Grosso, aberta pela cassação do mandato da senadora Selma Arruda (Podemos), deve servir como 'trampolim político', para os candidatos que também querem concorrer à Prefeitura de Cuiabá, em 2020, assim como prefeituras de outras cidades
Essa é a avaliação dos analistas políticos João Edisom de Souza e Onofre Ribeiro. Ao #reportermt, João Edisom disse que acredita que muitos postulantes, principalmente os novatos, e de partidos nanicos, vão aproveitar o tempo de campanha para projetar seus nomes.
“Cuiabá vai ser a maior vítima. No país da Lei de Gérson todo mundo leva vantagem. Olha o lucro que o cara vai ter, vai fazer uma campanha para o Senado projetando o nome dele com verbas públicas, para entrar depois na eleição municipal, que também é com verbas públicas. Então a pergunta seria: ‘Por que o cara não se lançaria ao Senado? ’”, comenta.
O jornalista Onofre Ribeiro citou alguns nomes que podem aproveitar o período para ganhar projeção na municipal em 2020 e também no pleito de 2022, como o ex-prefeito de Sorriso, Dilceu Rossato, o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Antônio Galvan e o vice-governador Otaviano Pivetta (PDT).
“O ex-prefeito de Sorriso, Dilceu Rossato é candidato, mas o que ele está querendo? Estáa querendo colocar o nome dele em projeção estadual para ser prefeito lá em Sorriso. O Pivetta esta aí, vice-governador por quatro anos. A tendência é cair no ostracismo, porque o Mauro é um governador forte e o Pivetta é um vice forte. O Mauro é que está governando e não vai deixar o Pivetta governar. Eles são dois bicudos e dois bicudos não se bicam. O Pivetta se lançou porque ele está olhando o futuro político, na próxima, em 2022, ele se lança para senador, candidato a governador, candidato a deputado federal”, avaliou.
“O Antônio Galvan da Aprosoja, ele sabe que não tem condições de ser senador, mas o mandato da Aprosoja dele termina e ele se lança agora pode ser candidato a prefeito de Sinop; pode ser candidato a deputado federal, pode ser para deputado estadual em 2022. Então é um trampolim muito interessante essa eleição”, complementou.
Enfraquecimento do agro
Outro ponto destacado pelos analistas foi a falta de união do agronegócio para lançar um nome para concorrer às últimas eleições. Eles comentaram que o último candidato que teve aval de todo o setor foi à candidatura de Blairo Maggi (Progressista) ao Senado em 2010, desde então, vem perdendo a força devido à desunião da classe.
“O agro não consegue se unir mais. Cada um acha que é um Deus lá dentro. Eles elegeram o Blairo, o Homero [Pereira], o Neri [Geller] se reelegeu, quase se arrebentando para tentar representar o setor e até agora parte do setor não conversa com ele e ele não conversa com parte do setor. O agronegócio tem um problema sério. O agronegócio é excessivamente soberbo não vai conseguir ficar em torno de um só”, avalia João Edisom.
Já Ribeiro, ressala que o setor “goza de antipatia” da classe urbana e acredita que o agronegócio tenha um candidato outsider.
“O agro tem o Fávaro [Carlos, ex-vice-governador], mas não é consenso. O Pivetta quer, mas não é consenso, o Galvão quer, mas não é consenso, quem é que poderia apaziguar o agro é o Blairo e o Blairo me disse que não consegue apaziguar o agro. Então o agro é um boi solto no pasto que corre risco de perder uma eleição. Então ganha um outsider, caindo de um paraquedas. Pode ganhar como o Bolsonaro ganhou”, acredita.
Na última eleição, o setor teve três candidatos ao Senado, Carlos Fávaro (PSD), Nilson Leitão (PSDB) e Adilton Sachetti (PRB).
Saco cheio
O analista João Edisom acredita que metade do eleitorado mato-grossense não irá às urnas para eleger um candidato ao Senado. Para ele, o pleito trará prejuízos financeiros e políticos para o Estado.
“Eleição suplementar é uma grande fria. Porque as pessoas só têm interesse em votar pra prefeito, governador e presidente. Já pensou parar uma eleição para votar para senador? Não vai ser o interesse da população. Pode ter certeza que menos de 50% das pessoas vão votar”, destaca.
Ele comenta que os eleitores da senadora Selma Arruda estão revoltados e não foram convencidos da decisão da Justiça Eleitoral, que cassou o mandato dela por caixa dois e abuso do poder econômico, por isso, podem votar em um candidato menos expressivo por protesto.
“99% que votou na Selma estão extremamente frustrados. Essa frustração pode fazer que votem no Macaco Tião, por exemplo, ou no Tiririca. As pessoas podem olhar com tanto nojo em ter que voltar às urnas, porque as pessoas não gostam de votar, só vão porque é obrigação”, disse.
Cassação
Em abril, o Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT), por unanimidade, cassou o mandato de Selma e de seus suplentes, Gilberto Eglair Possamai e Clerie Fabiana Mendes, por suposta prática de abuso de poder econômico e caixa 2.
De acordo com a denúncia do Ministério Público Eleitoral, os integrantes da chapa encabeçada pela senadora “abusaram do poder econômico, assim como praticaram caixa 2 de campanha, ao contraírem despesas de natureza tipicamente eleitoral no valor de R$ 1.246.256,36, quitadas com recursos de origem clandestina, que não transitaram regularmente pela conta bancária oficial”.
Após a decisão, a senadora ingressou um recurso ordinário no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra a cassação de seu mandato, mas o pedido foi rejeitado pelos ministros. Ela pode recorrer contra a decisão no TSE ou no Supremo Tribunal Federal (STF).