APARECIDO DO CARMO
DO CONEXÃO PODER
Em depoimento para a Comissão Processante que investiga suposto crime de responsabilidade praticado pelo prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), a ex-servidora da Secretaria Municipal de Saúde, Hellen Cristina da Silva, negou que o gestor ou que os secretários municipais interviessem no trabalho dela. Ela atuava no setor de Cotação e era a responsável por indicar os preços mais vantajosos para aquisição de medicamentos. A servidora culpou a indústria farmacêutica pelos preços altos dos medicamentos na pandemia.
“Para mim, que trabalhei com esses gestores, não vi como pessoas que queriam ludibriar a secretaria de Saúde, ludibriar o setor público”, disse.
Também deveriam ter prestado depoimentos o ex-secretário de Saúde, Célio Rodrigues, e o ex-secretário-adjunto de saúde, Milton Correa. Ambos alegaram estarem fora da cidade para não comparecerem à oitiva.
Em seu depoimento, Hellen, que foi arrolada como testemunha de defesa do prefeito, negou ter mantido qualquer tipo de relação com Célio ou Milton além do profissional e que só deixou o cargo por após ser alvo de uma operação policial.
Hellen atuou na área entre 2019 até a deflagração da Operação Overpriced, em setembro de 2020, quando foi acusada de integrar um esquema de fraude de licitação de medicamentos durante a pandemia de covid-19 com sobrepreço e direcionamento. Durante sua fala aos vereadores, Hellen disse que foi inocentada dessas acusações. Ela também foi alvo da Operação Curare, deflagrada em setembro de 2021, acusada de integrar grupo que fraudava contratações emergenciais de empresas terceirizadas durante a pandemia.
“A gente tem o nome da gente jogado na lama, passando por ladra, por uma pessoa que fez um desvio de milhões da secretaria de Saúde em uma época muito ruim, que foi a pandemia. Tive visita de policiais na minha casa. Eu tenho mãe com 75 anos de idade que tem diabetes. Eu fiquei mais pasma ainda quando me colocaram nessa operação como a responsável por cair toda uma casa por questão de uma cotação, de um orçamento”, disse.
Hellen negou ter fraudado os preços dos medicamentos comprados pela Secretaria Municipal de Saúde e justificou o aumento nos valores ao modo como a indústria farmacêutica agiu durante o cenário de emergência sanitária.
“Eu quero dizer para vocês que nessa época, na pandemia, a indústria farmacêutica em geral nadou, fez e aconteceu da forma que elas queriam”, afirmou.
Ela explicou que medicamentos como ivermectina, azitromicina, zinco e cloroquina eram praticamente desconhecidas da população e ninguém sabia exatamente para que servia. “Essa ivermectina era um remédio que ninguém conhecia, não sabia se era de cachorro, de rato, se salvava gente ou não”, relatou Hellen.
Mesmo assim, quando foi criado o kit covid, com esses medicamentos, os preços subiram exponencialmente. Ela alega que se tornou alvo da Justiça na Operação Overpriced porque a ivermectina foi comprada, seguindo o relatório apresentado por ela, a R$ 11,90 - valor acima do praticado normalmente.
Ela contou, ainda, que as empresas que vendiam ou distribuiam medicamentos não queriam negociar com estados e municípios e que, quando faziam isso, os valores eram muito mais altos. Em alguns casos, as empresas exigiam pagamento à vista ou não vendiam os produtos.
“As empresas cagavam para a gente. Porque a indústria farmacêutica não vende para estado, para prefeitura. Não vendem. Naquela época, uma distribuidora de medicamentos chegou a falar para a gente o seguinte: ou vocês pagam a vista ou a gente não entrega o medicamento”, afirmou.
Mesmo nesse cenário, ela argumenta, o seu trabalho estava respaldado por um decreto federal, um decreto estadual e uma portaria municipal que desobrigava o seu setor a apresentar três opções de preços ou a usar como base a tabela do governo federal.
Enfatizou, ainda, que não era ela a responsável pelas compras dos medicamentos, mas apenas o levantamento dos preços. “Cada um tem que responder pelo seu setor”, defendeu.
As próximas oitivas estão marcadas para o dia 15 de maio (quarta-feira), com Luiz Antonio Possas de Carvalho, Dalila Roque Ribeiro e Wellen Marcio Nascimento.