APARECIDO DO CARMO
DO CONEXÃO PODER
O ex-diretor executivo de Operações e Abastecimento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Thiago José dos Santos, exonerado nesta terça-feira (25), afirma que a sua demissão foi injusta, "que escorregou numa casca de banana” por apenas cumprir ordens do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD).
Thiago dos Santos era o responsável pelos leilões da Conab e foi indicado para o cargo por Neri Geller, demitido do cargo de Secretário de Política Agrícola no Ministério da Agricultura e Pecuária, em razão das irregularidades identificadas no leilão. Das quatro empresas vitoriosas no certame, nenhuma tinha experiência de atuação no ramo arrozeiro. Antes de ocupar o cargo na Conab, Thiago foi assessor parlamentar de Neri na Câmara Federal.
“Fizemos o que o ministro (Fávaro) mandou e colocamos no papel. Foi muita fala política e menos fala técnica. O ministro determinou R$ 5 o quilo, abaixo do preço de paridade. Isso tirou outros participantes da concorrência. Não tenho participação nenhuma. Só escrevi o que o governo falou através do Ministério da Agricultura. Apesar dos leilões não serem supervisionados pelo ministério, ele (Fávaro) trouxe para o gabinete dele esse assunto”, disse Thiago ao jornal O Globo.
Conforme Thiago, os técnicos da Conab defendiam que os valores iniciais do quilo do arroz ficassem entre R$ 5,50 e R$ 5,80. A imposição de Fávaro para que o valor fosse menor afastou as empresas que poderiam se interessas no negócio.
O leilão foi anulado depois que a imprensa divulgou que três empresas vencedoras do leilão foram representadas por Robson Luiz de Almeida França, que trabalhou com Geller na Câmara dos Deputados entre 2019 e 2020. França também é sócio do filho de Neri Geller, Marcelo Piccini Geller, na empresa GF Business, criada em agosto de 2023 e voltada para o agronegócio. Enquanto esteve no gabinete de Geller na Câmara Federal, França atuou ao lado de Thiago dos Santos.
Na semana passada, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse que o leilão foi cancelado por causa de uma “falcatrua numa empresa”.
“Se a operação tivesse sido feita como os técnicos da Conab determinaram, não teria como dar errado. Foi uma casca de banana que escorreguei e que não fui eu que coloquei. Me sinto totalmente injustiçado, porque não participei de nada até momento do leilão”, disse Thiago.
“Quem determinou as regras de como seria não fui eu, e não deixaram o leilão seguir. Interromperam antes do final. Foi um assunto muito politizado. Não vou colocar culpa em ninguém”, acrescentou.
A Polícia Federal instaurou um inquérito para investigar as irregularidades. Procurado pela reportagem de O Globo, Fávaro não quis comentar as declarações de Thiago dos Santos.